sexta-feira, fevereiro 25, 2011

O que é Eletromiografia?

Eletromiografia na UFRGS


CONCEITO


A Eletromiografia (EMG) é uma técnica que permite realizar o processamento dos sinais elétricos gerados pela despolarização das células musculares, possibilitando a análise muscular durante o movimento. Esse recurso tem possibilitado diversos estudos entre os profissionais na prática clínica e pesquisas que envolvem a análise muscular. A utilização da EMG em estudos científicos, caminham para a confiabilidade e a validade do uso desse instrumento na prática clínica.


Para que possamos entender o funcionamento dessa técnica, a coleta e análise dos dados eletromiográficos, é importante destacar a seleção dos eletrodos e a impedância da pele; a amplificação diferencial e rejeição do modo comum; o processamento do sinal eletromiográfico; e, a quantificação do sinal e normalização.



COLETA DOS DADOS ELETROMIOGRÁFICOS


- Seleção dos eletrodos e impedância da pele


A energia gerada é detectada pelos eletrodos que, dependendo do músculo a ser avaliado, podem ser classificados como eletrodos de superfície ou eletrodos intramusculares. Para a análise de músculos superficiais, os eletrodos de superfície são os mais recomendados uma vez que não causam desconforto na coleta de dados. Já para análise de músculos mais profundos, os eletrodos intramusculares são os mais utilizados para evitar interferências (cross-talk) dos músculos que se encontram mais superficialmente.


Os eletrodos de superfície podem ser classificados em eletrodos passivos e eletrodos ativos. No caso dos eletrodos passivos, a pele constitui-se uma barreira entre o potencial de ação das células musculares e os eletrodos. Dessa forma, a impedância da pela (ou resistência imposta a passagem de corrente para o eletrodo), deve ser considerada. Essa impedância pode variar em função da umidade, quantidade de óleo e densidade córnea da pele. Para que a medida eletromiográfica seja adequada, valores entre 5.000ohms e 10.000ohms devem ser obtidos. Para se atingir tais valores, a preparação da pele deve ser feita com a retirada dos pêlos, lavagem com água e sabão e leve abrasão com álcool.


Os eletrodos ativos possuem um pré-amplificador que amplifica os sinais eletromiográficos, diminuindo a impedância da pele possibilitando a preparação através de uma simples limpeza com álcool.


- Amplificação diferencial e rejeição do modo comum


A energia gerada no músculo tem valores muito pequenos (microvolts), devendo esses valores do sinal eletromiográfico devendo ser amplificados e a esse processo denominamos “ganho”. Nas primeiras utilizações da EMG, a energia captada pelo eletrodo era qualquer sinal gerado, inclusive o sinal captado pelas interferências externas (ruídos). Sendo assim, na década de 50, foram adaptados locais especiais de coleta dos dados, as chamadas “cooper cages”.


Para se realizar a ampliação diferencial, três eletrodos são utilizados sendo dois de detecção do sinal e um de referência. Os eletrodos de detecção do sinal são colocados no músculo de interesse, enquanto os de referência em qualquer proeminência óssea do corpo. A energia detectada pelo eletrodo de detecção (sinais eletromiográficos externos + potencial de ação das células musculares) é comparada com a do eletrodo de referência (sinais eletromiográficos externos). Apenas o sinal do potencial de ação gerado pelas células musculares é amplificado e registrado (ampliação diferencial). Já o sinal de é comum aos dois eletrodos (o modo comum) é descartado do processo. O modo comum, geralmente vem de sinais eletromiográficos externos, como a corrente de 60Hz captada por lâmpadas ou outros equipamentos externos.


- Processamento do sinal eletromiográfico


Antes de serem analisados, os dados eletromiográficos passam por uma série de processamentos. O primeiro nível de processamento é a filtragem do sinal.


A maioria dos instrumentos de EMG possuem em sua base um filtro de sinal denominado notch filter, que possue a função de registrar qualquer sinal entre 50Hz e 61Hz. É eliminado do processo quaquer sinais oriundo dessa freqüência, uma vez que a maioria dos sinais do ambiente encontra-se em valores próximos de 60Hz.


Outro filtro bastante utilizado é o band pass filter. Esse filtro elimina do processo qualquer sinal abaixo de 20Hz e acima de 300Hz, com o intuito de captar valores entre essas frequências, uma vez que 80% do sinal muscular encontra nessa amplitude.


Ainda nessa fase, a retificação constitui outro ponto. Como a energia captada pelo eletromiógrafo é de corrente alternada, onde todo sinal positivo é acompanhando de um sinal negativo, todo o sinal negativo é transformado em sinal positivo, não importando a polaridade, mas sim a magnitude do sinal eletromiográfico.


Após essas etapas, o sinal eletromiográfico é processado para análise.


ANÁLISE DOS DADOS ELETROMIOGRÁFICOS


- Quantificação do sinal


A quantificação é o primeiro processo de análise dos dados eletromiográficos. Existem dois meios principais de derivação dos dados: a eletromiografia integrada (IEMG) e a Root Mean Square (RMS). A IEMG é a medida tomada pela soma dos produtos da intensidade eletromiográfica pela freqüência de coleta. Enquanto a RMS é elevação ao quadrado dos dados obtidos, obtem-se a média dos valores resultantes e extrai-se a raiz quadrada do valor médio obtido. Porém, a Normalização é necessária para comparação dos valores resultantes.


- Normalização


A comparação de valores eletromiográficos intra e interindivíduos é potencialmente problemática. A EMG sofre influência de diversos fatores que determinarão a quantidade de energia que será registrada pelos eletrodos do eletromiógrafo. Alguns dos fatores podem influenciar a detecção do sinal eletromiográfico e, consequentemente, sua comparação, incluem: a espessura do tecido adiposo subcutâneo, velocidade de contração, área de secção transversa do músculo, idade, sexo, mudanças súbitas de postura, distância entre os eletrodos, diferenças antropométricas entre os locais de coleta e impedância da pele.


Normalização é o nome do processo que foi desenvolvido para lidar com os fatores que interferem no sinal eletromiográfico e que dificultam as comparações intra e interindivíduos, em que se referencia o dado eletromiográfico a um valor padrão. Existem diversos valores possíveis de serem utilizados e eles podem ser obtidos durante as contrações dinâmicas e estáticas.


A EMG tem sido uma excelente ferramenta adequada para o registro da atividade elétrica muscular uma vez que diversos fatores de quantificação e normatização sejam considerados, principalmente em estudos que envolvem o movimento humano.

Adaptado do artigo de OCARINO, JM, SILVA, PLP, VAZ, DV, AQUINO, CF, BRÍCIO, RS FONSECA, ST. Eletromiografia: interpretação e aplicações nas ciências da reabilitação. Rev Fisiot Brasil, 6(4), 2005.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Você faz Exercício Físico ou Atividade Física?

Acho importante destacar que há uma diferença relevante entre exercício e atividade física. Enquanto a atividade física refere-se a qualquer forma de movimento que resulte em gasto energético e esforço físico, o exercício é um modo repetitivo, estruturado e programado de realizar atividade física. Por exemplo, atividade física pode ser varrer o quintal, andar pelo supermercado. Já o exercício é a nossa corrida, fazer abdominais, alongamento e assim por diante.

É preciso frisar esta diferença pelo seguinte motivo: algumas pesquisas têm indicado que, mesmo em pessoas que praticam exercícios físicos com freqüência igual ou superior a três vezes por semana, estamos nos movimentando pouco. Espera aí! Como pode uma pessoa que corre 10km por dia movimentar-se pouco? Em geral, os corredores presumem que, já que estão correndo quilômetros e quilômetros semanalmente, não necessitam realizar outros movimentos durante o resto do tempo. E não é bem assim. De novo pesquisas demonstram que uma pessoa acostumada a fazer exercícios de forma muito prolongada e/ou intensa normalmente fica muito cansada para realizar outras atividades físicas durante o dia, como as tarefas domésticas, passeios ou até mesmo brincar com os filhos.

Assim, temos o paradoxo do exercício: mais exercício, menos movimento. Se pararmos para pensar, não é tão contraditório assim. Quem corre acha que já está cuidando do corpo. Só que não é tão simples. O corpo é uma máquina que necessita desempenhar movimentos em diversos planos, com inúmeras articulações e várias vezes ao dia. Aliás, muitas lesões acontecem pela repetição dos movimentos.

No entanto, há alternativas para praticarmos mais atividade física durante o dia. Dançar enquanto escutamos música (mesmo que seja por 3 minutos), brincarmos com o cachorro ou com crianças (rolar, pular, dar cambalhotas), fazer mais trabalhos manuais, escrever à mão (quem ainda faz isso?), etc. Enfim, precisamos, em termos de movimentos, retroceder, voltar no tempo, fazer as coisas simples que as crianças fazem. A tecnologia ainda não inventou uma esteira que nos obrigue a dar uma cambalhota a cada quilômetro. Infelizmente...

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Problemas da tireóide...

A tireóide é uma pequena glândula endócrina que se localiza na região anterior do pescoço. Essa glândula possui um importante papel no controle do metabolismo. A tireóide produz hormônios T3 triiodotironina e T4 tiroxina, responsáveis pelas reações que garantem os processos bioquímicos e de geração de energia do organismo.

O hipotireoidismo ocorre quando a tireóide produz esses hormônios abaixo dos níveis considerados normais. Quando há quantidade insuficiente do hormônio circulando na corrente sangüínea, o organismo trabalha mais devagar, ocasionando problemas de saúde.

Diagnóstico

O diagnóstico do hipotireoidismo é feito através dos exames de sangue T3, T4 e TSH, que medem o nível hormonal que o corpo está produzindo.

Em pacientes com cirurgia prévia, pode também ser realizada a ultra-sonografia da tireóide. Deve também ser analisado se há problemas com a quantidade de lipídios no sangue do paciente — condição que está fortemente associada ao hipotireoidismo.

Sintomas do Hipotireoidismo

  • Falta de apetite
  • Depressão
  • Fraqueza muscular
  • Cansaço físico
  • Raciocínio lento
  • Queda de cabelos
  • Unhas secas e quebradiças
  • Intolerância ao frio
  • Sonolência
  • Diminuição do ritmo cardíaco
  • Prisão de ventre

Causas do Hipotireoidismo

O hipotireoidismo pode ter diversas causas. A mais comum é a que decorre da Doença de Hashimoto. Esta doença ocorre quando o organismo, por razões desconhecidas, não reconhece a tireóide como parte do próprio corpo e o sistema imune prejudica o seu funcionamento. A tireóide, assim alterada, produz menos hormônios.

O hipotireoidismo também pode aparecer em pessoas que se trataram de hipertireoidismo (aumento da função tireoideana). Outras causas incluem tratamento com iodo radiativo, radioterapia ou infecção da tireóide por determinados vírus ou bactérias.

Algumas crianças nascem com hipotireoidismo por mau funcionamento congênito ou por total falta da glândula. Estas crianças devem ser tratadas imediatamente e por toda a vida para que possam se desenvolver normalmente.

Tratamento do Hipotireoidismo

O tratamento escolhido depende da avaliação das causas, por isso é individual para cada paciente.

O tratamento mais comum é a reposição hormonal. Antes de iniciar a reposição, o médico deverá fazer exames para saber qual é a dosagem correta de hormônio que o paciente deverá tomar.

O hormônio sintético da tireóide usado no tratamento é chamado de levotiroxina sódica. A levotiroxina funciona no organismo exatamente como o hormônio natural da tireóide.

Devem ser feitos exames clínicos e laboratoriais periódicos para manter a dose bem ajustada.

Para a grande maioria dos pacientes, o hipotireoidismo é crônico, portanto o tratamento deverá ser feito por toda a vida.

Para atletas, deve observar com eficácia o tratamento para evitar o doping em situações de performance e rendimento.

Hipertireoidismo

O hipertireoidismo é o “contrário” do hipotireoidismo. O hipertireoidismo acontece quando a glândula tireóide produz os hormônios T3 e T4 em excesso. O aumento da produção desses hormônios causa problemas sérios para a saúde (como insuficiência cardíaca, levando até a morte).

Aspectos Históricos da Epidemiologia: uma introdução sobre Epidemiologia, Atividade Física e Saúde

A maioria dos textos que fundamentam a epidemiologia, especulam que esta nasceu com Hipocrátes. A grande parte dos escritos hipocráticos sobre as epidemias e sobre a distribuição das enfermidades nos ambientes, sem dúvida, antecipam o chamado raciocínio epidemiológico. A tensão essencial entre a medicina coletiva e individual, desde aquela época, refletia o antagonismo entre as duas filhas do deus Asclépio: Panacéia e Higéia. Panacéia preconizava a medicina curativa, prática terapêutica baseada em intervenções sobre indivíduos doentes, mediante manobras físicas, encantamentos, preces e uso de medicamentos, enquanto Higéia, defendia a saúde como resultante da harmonia entre os homens e ambientes, e buscava promovê-la por meio de ações preventivas. Fazendo um paraleleo dos dias atuais, é pensando desta forma que os nossos profissionais da área de saúde realizam a maioria dos seus diagnósticos e prognósticos: de forma preventiva e curativa.

No final do século XIX, inicia-se a era das doenças infecciosas com seu paradigma dominante “germe” que perdura até meados do século XX. Um dos grandes nomes deste período foi Louis Paster, quando demonstrou organismos vivos como agente de epidemias. Seguiram-se estudos sobre infecção e contágio em doenças humanas, por exemplo tuberculose e leptospirose. Finalmente, em 1882, descobriu-se uma microbactéria como agente causador da tuberculose. Na teoria do germe, inicialmente, as doenças eram causadas por um único agente. Posteriormente, o modelo unicausal tornou-se insuficiente, desenvolvendo-se a teoria ecológica das doenças infecciosas, onde a interação do agente com o hospedeiro ocorre em ambiente composto por elementos de diversas ordens (biológicos, físicos e sociais), surgindo então a idéia das redes multicausais na determinação das doenças. Nesta época, o tratamento dos agravos era feito por meio do isolamento dos afetados e, ultimamente, por antibióticos. A prevenção é feita, até nos dias atuais, por meio de vacinas. Desta forma, observou-se um declínio nas doenças infecciosas.

Os epidemiologistas britânicos Richard Doll, Jeremy Morris, Thomas McKeown, entre outros, foram figuras chaves desta era. Os estudos de caso-controle e coorte sobre câncer de pulmão e cigarro e os estudos preliminares sobre doença arterial coronariana, que estabeleceram hábito de fumar e colesterol como fatores de risco, demonstraram a força deste método de observação. O paradigma da caixa preta foi entendido como uma metáfora geral em que as unidades reservadas e inerentes ao processo estão escondidas da visão. O paradigma relaciona exposição ao efeito entendendo exposição como uma rede multicausal de fatores determinantes da doença. Entre os principais determinantes podemos citar: o estilo de vida, meio ambiente e aspectos sociais. Nos dias atuais, alguns autores predizem o advento de uma nova era para a epidemiologia denominada eco-epidemiologia com seu paradigma das “caixas chinesas”, que seria resultante da síntese de conhecimentos gerados em dois níveis de conhecimento. O macro, com o estudo dos fenômenos em nível da população e das sociedades; e o micro, com o estudo dos fenômenos que ocorrem ao nível molecular, o estudo do genoma humano Este novo paradigma seria integrador e harmonizador destes níveis de conhecimento.