É claro que o pessoal achava ruim esse mau humor logo de manhã, mas a maioria continuava indo às aulas e renovando a matrícula, porque a técnica do Zé funcionava muito bem. As pessoas ficavam em forma e raramente se machucavam. Eu diria que é porque o Zé cuidava dos alunos. Se alguém faltava, ele percebia. Se alguém aparecia lesionado, ele propunha adaptações. Se alguém estava com preguiça, ele dava alternativas, mas jamais abandonava o aluno. E é disso que eu sinto falta nas academias modernas. De um professor que saiba tudo que está acontecendo com seus alunos e cuide deles.
Talvez essa cultura do mestre sabedor de todas as coisas cuidando de seu rebanho ainda sobreviva nas escolas de artes marciais de bairro ou em academias pequenas no interior. Alguns de vocês devem saber melhor do que eu. Aqui na cidade grande e moderna em que eu vivo, nas academias high-tech que já frequentei, o mais comum é receber na entrada a grade de horários com um cardápio repleto de opções de atividades, horários e professores que cuidarão de mim apenas parcialmente. Se eu escolher uma aula que acontece duas vezes por semana, o professor dessa aula não saberá e não se importará com o que eu faço nos outros dias. Se a academia mudar a grade de horários no mês seguinte ou se o professor que montava meu treino for embora, ninguém virá me perguntar o que eu farei dali para frente.
No meu ver, os jovens e mal pagos professores de academia estão desperdiçando a oportunidade de arrebanhar seguidores e de fazer seu nome em cima da qualidade e do resultado duradouro para um grupo maior de pessoas. Estão preferindo se proteger sob o nome de marcas fortalecidas em vez de fortalecer o próprio legado. Será que assim conseguem mudar alguma coisa?
(texto adaptado de Francine Lima, colunista da época)