A maioria dos textos que fundamentam a epidemiologia, especulam que esta nasceu com Hipocrátes. A grande parte dos escritos hipocráticos sobre as epidemias e sobre a distribuição das enfermidades nos ambientes, sem dúvida, antecipam o chamado raciocínio epidemiológico. A tensão essencial entre a medicina coletiva e individual, desde aquela época, refletia o antagonismo entre as duas filhas do deus Asclépio: Panacéia e Higéia. Panacéia preconizava a medicina curativa, prática terapêutica baseada em intervenções sobre indivíduos doentes, mediante manobras físicas, encantamentos, preces e uso de medicamentos, enquanto Higéia, defendia a saúde como resultante da harmonia entre os homens e ambientes, e buscava promovê-la por meio de ações preventivas. Fazendo um paraleleo dos dias atuais, é pensando desta forma que os nossos profissionais da área de saúde realizam a maioria dos seus diagnósticos e prognósticos: de forma preventiva e curativa.
No final do século XIX, inicia-se a era das doenças infecciosas com seu paradigma dominante “germe” que perdura até meados do século XX. Um dos grandes nomes deste período foi Louis Paster, quando demonstrou organismos vivos como agente de epidemias. Seguiram-se estudos sobre infecção e contágio em doenças humanas, por exemplo tuberculose e leptospirose. Finalmente, em 1882, descobriu-se uma microbactéria como agente causador da tuberculose. Na teoria do germe, inicialmente, as doenças eram causadas por um único agente. Posteriormente, o modelo unicausal tornou-se insuficiente, desenvolvendo-se a teoria ecológica das doenças infecciosas, onde a interação do agente com o hospedeiro ocorre em ambiente composto por elementos de diversas ordens (biológicos, físicos e sociais), surgindo então a idéia das redes multicausais na determinação das doenças. Nesta época, o tratamento dos agravos era feito por meio do isolamento dos afetados e, ultimamente, por antibióticos. A prevenção é feita, até nos dias atuais, por meio de vacinas. Desta forma, observou-se um declínio nas doenças infecciosas.
Os epidemiologistas britânicos Richard Doll, Jeremy Morris, Thomas McKeown, entre outros, foram figuras chaves desta era. Os estudos de caso-controle e coorte sobre câncer de pulmão e cigarro e os estudos preliminares sobre doença arterial coronariana, que estabeleceram hábito de fumar e colesterol como fatores de risco, demonstraram a força deste método de observação. O paradigma da caixa preta foi entendido como uma metáfora geral em que as unidades reservadas e inerentes ao processo estão escondidas da visão. O paradigma relaciona exposição ao efeito entendendo exposição como uma rede multicausal de fatores determinantes da doença. Entre os principais determinantes podemos citar: o estilo de vida, meio ambiente e aspectos sociais. Nos dias atuais, alguns autores predizem o advento de uma nova era para a epidemiologia denominada eco-epidemiologia com seu paradigma das “caixas chinesas”, que seria resultante da síntese de conhecimentos gerados em dois níveis de conhecimento. O macro, com o estudo dos fenômenos em nível da população e das sociedades; e o micro, com o estudo dos fenômenos que ocorrem ao nível molecular, o estudo do genoma humano Este novo paradigma seria integrador e harmonizador destes níveis de conhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário