segunda-feira, setembro 26, 2011

Dores musculares na fibromialgia



A fibromialgia é entendida como um quadro de dor difusa, manifestada especialmente na musculatura. Este é um conceito importante, pois não se pode fazer o diagnóstico da fibromialgia em pessoas que têm dor em somente uma parte do corpo, mesmo que esta dor seja crônica.

Porém, existe um tipo de dor crônica localizada que o paciente com fibromialgia deve estar bem familiarizado e orientado de como lidar: a dor miofascial.

O que é isto? Bem, a dor miofascial é provavelmente uma das causas mais comuns de dor localizada. É aquele ponto na musculatura que está tão contraído que o músculo forma um verdadeiro nó, ou “caroço”. A maioria das pessoas tem ou terá um destes pontos em alguma ocasião de suas vidas. Os mais típicos aparecem no pescoço ou nos ombros, quando se está tenso, mas eles podem aparecer em qualquer músculo do corpo.

Estes “caroços” recebem o nome técnico de “pontos-gatilho”. Eles são assim chamados porque, quando estimulados, “disparam” uma dor irradiada que segue o trajeto do músculo. Eles são diferentes dos pontos dolorosos na fibromialgia, que simplesmente são locais de maior sensibilidade à dor, e que não apresentam dor irradiada à distância. A diferenciação dos dois no mesmo paciente pode ser difícil, mas um médico experiente pode identificá-los e individualizá-los.

Qual a importância destes pontos? Quando o paciente não é portador de fibromialgia, o grande problema da dor miofascial é que o diagnóstico demora a ser feito. Como a dor é irradiada, muitas vezes o diagnóstico é feito levando-se em conta o trajeto de nervos, não do músculo. Por exemplo, um ponto-gatilho na nádega induz uma irradiação para o membro inferior que lembra muito uma ciática. Porém, neste caso não há compressão do nervo ciático por uma hérnia de disco, mas uma contração muscular intensa com dor irradiada. Esta demora em se fazer o diagnóstico e por conseqüência o tratamento adequado leva a uma contração muscular crônica, que em alguns pacientes predispostos podem começar a envolver toda a musculatura, levando finalmente a fibromialgia.

No paciente com fibromialgia já estabelecida, a presença de pontos gatilhos deve ser detectada, pois esta dor pode “alimentar” o processo de amplificação de dor que já está ocorrendo no paciente. Neste caso, a dor miofascial é chamada de um “gerador periférico de dor central” e o seu tratamento é fundamental para a melhora do paciente como um todo.

Como estes pontos-gatilho são tratados? Habitualmente, o paciente melhora muito com exercícios de alongamento e exercícios aeróbicos. Como o paciente precisa relaxar a musculatura, um bom sono é necessário. A maioria destes pacientes apresenta sono não reparador, como os pacientes com fibromialgia. Medicações para o sono são usadas então para corrigir este fato. Medicações analgésicas e relaxantes musculares também são usadas, para alívio sintomático da dor. Massagem local e acupuntura proporcionam alívio, mas este geralmente é temporário. Uma técnica conhecida como agulhamento, que é a injeção de anestésico local no ponto doloroso, seguida de estimulação com a ponta da agulha, oferece melhores resultados, principalmente se associada com alongamento muscular intensivo.

sexta-feira, setembro 09, 2011

Processo inflamatório nos tendões

Os tendões são estruturas fibrosas, com pouca vascularização (recebem pouco aporte sanguíneo), que têm como principal função transmitir a força gerada pelos músculos aos ossos, determinando os movimentos do nosso corpo. As tendinites podem ser denominadas como a inflamação de algum tendão.

Diversas são as causas que podem gerar um processo inflamatório sobre o tendão. Podemos citar: falta de alongamento e flexibilidade de algum grupo muscular, falta de aquecimento antes de atividades esportivas, excesso de movimentos repetitivos, sobrecarga dos treinamentos, excessivo manuseio de carga e calçado inadequado.

O diagnóstico é realizado através das queixas do atleta/paciente/aluno, o qual refere dor ao movimento. O professor deve avaliar o segmento acometido através da palpação do local da dor e observar presença de calor e rubor (vermelhidão) no local. Vale a pena orientar a realização de exames de ultra-som e/ou ressonância magnética por um especialista médico.

Entre as tendinites mais comuns, podemos citar:

Tendinite dos flexores do punho - Conhecida como cotovelo de golfista ou epicondilite medial, acomete os tendões flexores do punho, gera dor na face medial (interna) do cotovelo e piora na pronação do antebraço.

Tendinite dos extensores do punho - Conhecida como cotovelo de tenista ou epicondilite lateral, acomete os tendões extensores do punho, gera dor na face lateral (externa) do cotovelo e piora na supinação do antebraço. As epicondilites podem aparecer em qualquer idade, mas é mais comum entre os 40- 50 anos e aparece não só em atletas, mas também em pessoas que utilizam muito a articulação do cotovelo, como cabeleireiros, cozinheiros, pintores até donas de casa.

Tendinite de Calcâneo (Aquiles) - Também conhecida como tendinite de Aquiles, é a lesão inflamatória mais comum entre os corredores e acomete o tendão dos músculos da panturrilha (tríceps sural). As dores se localizam na região posterior do calcanhar. Essa lesão pode ocorrer por insuficiência e/ou desequilíbrio muscular da panturrilha, excesso e/ou aumento da carga de treinamento e uso de calçados inadequados para o esporte. Calçados sem elevação do calcanhar podem gerar esse tipo de tendinite.

Tendinite Patelar - Lesão conhecida como tendinite do saltador, acometia atletas de vôlei e basquete, porém, nos últimos anos vem aumentando o número de corredores com esse tipo de lesão. Afeta o tendão do músculo anterior da coxa (quadríceps) e as dores são localizadas bem abaixo do osso patelar. Esse tipo de lesão pode ocorrer por movimentos repetitivos, excesso de treinamento e desequilíbrio dos músculos da coxa. Pode também estar associada com desalinhamento dos membros inferiores, como joelho valgo, quadris largos (principalmente em mulheres) e pé plano (chato), que pode gerar um desalinhamento patelar e, assim, um desarranjo no mecanismo extensor do joelho, evoluindo para condromalácea.

CUIDADO: Não entenda mal. Não é que a tendinite evolui para condromalácea, e sim são problemas que podem acontecer concomitantemente, principalmente em pessoas que apresentam aumento da obliquidade femural e desvios angulares do joelho.
Existem inúmeras tendinites... em outros posts, listaremos mais algumas.
É importante realizar fisioterapia. O tratamento tem início cerca de 3 a 7 dias após a consulta e a prescrição médica de anti-inflamatórios. O Fisioterapeuta inicialmente realiza tratamento analgésico e anti-inflamatório com recursos de eletroterapia e após a cessão da dor e do processo inflamatório, começa a segunda etapa do tratamento, que visa o reequilíbrio muscular (alongamentos e fortalecimentos).

IMPORTANTE: durante a fase de administração da medicação, é necessário cessar a atividade que gera dor, ou seja, deve-se respeitar um período de repouso relativo sem movimentação da estrutura inflamada por uma semana.
O objetivo geral da reabilitação é corrigir possíveis alterações posturais e passar orientações sobre calçados mais adequados, se necessário, assim como restaurar a resistência muscular do segmento para que o mesmo suporte as cargas externas e melhor as distribua.
Se você não respeitar essas fases, uma simples tendinite pode evoluir para uma tendinose, tendinopatia (condição de degeneração do tendão) e até rotura parcial ou total do tendão. Se este último acontecer, a única solução é a intervenção cirúrgica.

Prevenção: é possível realizar trabalhos preventivos com finalidade de evitar tendinites e outras lesões. O Fisioterapeuta e o Educador Físico têm condições de implantar séries de alongamentos e fortalecimentos de forma periódica, bem como atuar na orientação sobre calçados e correções posturais.

Dica: Se você já apresentou caso anterior de tendinite ou tem dores nas regiões distais dos músculos próximos às articulações, procure um profissional especializado (Médico, Fisioterapeuta e/ou Educador Físico) para o correto diagnóstico e tratamento, pois só assim você terá condições de continuar sua prática esportiva e suas atividades diárias com segurança.

Então, não se esqueça:
- Retire da atividade física o local afetado e pare de realizar o movimento que gere dor por 7 dias. Se não conseguir, diminua ao máximo.
- Use gelo diariamente por 25 minutos no local afetado nos primeiros 2 dias.
- Não realize fortalecimento e alongamento durante o processo de reparação ou enquanto tiver dor. Espere o processo inflamatório ceder e procure um profissional para lhe ajudar na reabilitação.
- Respeite o uso de anti-inflamatórios (conforme indicação médica).
- Respeite a imobilização e, em alguns casos, a reparação cirúrgica.
- Busque identificar a causa: patologias associadas, mecanismo esportivo, má postura em atividades diárias, lesão por esforço repetitivo, entre outras.

Cuide-se!

quinta-feira, setembro 08, 2011

Exercícios Resistidos e Pressão Arterial



Uma alternativa para controle e prevenção dessa patologia, a hipertensão, é a prática regular do exercício físico. Por motivo de segurança, facilidade no controle da intensidade e desconhecimento das alterações da pressão arterial (PA) frente a uma sessão de exercício resistido (ER) e/ou programa de treinamento resistido (TR), os exercícios aeróbios foram os mais estudados e recomendados. Até o início dos anos 1990, o TR, também chamado de treinamento de força, com pesos, contrarresistência ou musculação, não eram contemplados em diretrizes internacionais (UMPIERRE e STEIN, 2007). Graças aos esforços de diversos autores e ao grande número de pesquisas recentemente publicadas, o TR está sendo recomendado para todas as populações como mais uma estratégia para profilaxia e tratamento de doenças crônico degenerativas, inclusive para aqueles que sofrem de HAS (PESCATELLO, 2004; AHA, 2000).

Sabe-se que o TR também proporciona alterações subagudas e crônicas que são benéficas para o controle da PA e estas alterações são evidenciadas em sujeitos hipertensos e normotensos. Bermudes e cols. (2003) verificaram o efeito hipotensivo após uma sessão ER em forma de circuito em sujeitos entre 40 e 50 anos, normotensos e sedentários e não evidenciando alterações significativas da PA em relação ao repouso após o exercício e durante o período de sono quando avaliada pelo MAPA. No estudo realizado por Polito e cols. (2003), foi observado efeito hipotensor após uma sessão ER, no entanto, a magnitude não diferiu quando a intensidade do treino foi alterada. Agora, com relação às respostas subagudas do ER em hipertensos, alguns estudos também destacam a hipotensão pós-exercício. Melo e cols. (2006) verificaram diminuição da PAS (-12±3 mmHg)  e PAD (- 6±2 mmHg) por até 10 horas em mulheres hipertensas em uso de captopril pós-sessão de ER para membros superiores e inferiores. Costa e cols. (2010) também observaram hipotensão após uma sessão de ER em idosas hipertensas treinadas e não treinadas. Segundo os autores, os resultados foram mais consistente nas voluntárias não treinadas. Segundo Polito e Farinatti (2006), embora alguns estudos não apresentem diferenças significativas, estas podem estar associadas a volume, intensidade do ER, como também período de monitoração da PA.  No entanto, segundo os mesmos autores é possível identificar a hipotensão pós-exercício tanto em pessoas normotensas quanto hipertensas. É importante destacar que sujeitos com maiores valores de PA apresentam maiores hipotensões pós-exercício (NEGRÃO e BARRETO, 2005).

Agora, com relação ao efeito crônico do TR, diversos estudos apresentam resultados satisfatórios no que diz respeito ao controle e à manutenção da PA. Nos estudos de revisão de Kelly (1997) e Kelly e Kelly (2000), foram encontradas reduções médias de 5 mmHg para a PAS e 4 mmHg para a PAD e 3 mmHg para a PAS e 3 mmHg para a PAD em jovens normotensos, respectivamente. Além disso, parece que sujeitos de idade avançada também se beneficiam do efeito crônico do ER. Com base nos estudos encontrados, embora escasso e controverso, o TR também pode desencadear efeito hipotensor em indivíduos idosos normotensos e esse efeito ocorre, principalmente, quando o treinamento é de baixa intensidade (QUEIROZ, KANEGUSUKU e FORJAZ, 2010). Entretanto, Terra e cols (2008) evidenciaram reduções médias de 10 mmHg (PAS), 1 mmHg (PAD) e 6 mmHg para a PA média após TR de 12 semanas em idosas hipertensas controladas. Vale destacar que pequenas reduções nos valores da PA já são suficientes para reduzir de forma marcante os riscos associados a HAS. Segundo Pescatello e cols. (2004), reduções 2mmHg na PAS e/ou PAD podem reduzir na população geral o risco de acidente encefálico em 14% e 17%, respectivamente, e o risco de DAC em 9% e 6%, respectivamente.

Além disso, apesar de ainda não serem claras as adaptações da PA em resposta ao TR, outros fatores como alterações metabólicas (melhora da sensibilidade a insulina, aumento e/ou manutenção HDL colesterol e redução e/ou manutenção do LDL colesterol), osteomusculares (redução da gordura corporal, aumento da força, massa muscular e densidade mineral óssea) e funcionais (vaso dilatação e consequentimente redução da carga vascular e melhora da capacidade de desempenhar as atividades da vida diária), fatores que contribuem para o surgimento e/ou agravo da hipertensão arterial e comorbidades associadas, são influenciados de forma positiva após um programa de TR (WALLACE 2003; POLITO e FARINATTI, 2003; UMPIERRE e STEIN, 2007; WILLIAMS e cols., 2007; BRAITH e STEWART, 2006).

Sendo assim, devido aos vários benefícios associados ao TR, pesquisas que avaliam intensidade, duração, carga, repetições, intervalo e intensidade do programa de treinamento são de grande importância para verificar qual protocolo seria o mais indicado para os sujeitos com HAS.